Trecho da Obra “O Anjo Enjaulado”
Meu ser era da mesma natureza das pedras, não daquelas simplesmente escuras, maciças, uniformemente sem graça. Era daquelas que escondiam tesouros: gemas, turmalinas, opalas, turquesas, esmeraldas, diamantes, meios de irradiar luz de modo a deslumbrar os olhos. O que muitos não sabem é que, sem tais preciosidades, a vida flui sem grandes injeções de ânimo, porque são elas que tornam a nossa existência mágica. Assim, na montanha cheia de magia onde vivia, e que era fruto de meu pensamento criador, foi onde vi o ser terreno que me parecia o mais excelso e celestial dos seres. Sim, eu admirava a cascata e seu arroio, quando vi uma mulher que se banhava despida, linda, com água brilhante em seus cabelos. Tal visão fez meu coração pulsar dentro do meu peito, como se tivesse peito e coração, já que, como anjo que era, me faltavam sangue e carne. E mesmo sendo capaz, como anjo, de lançar jorros de amor, energia e luz de meu centro cardíaco, ao ver aquela mulher lindíssima, meus chakras passaram a girar sem prumo, transladando-se de seus centros. Assim, descentrado e esvaziado de meus parâmetros de eu mesmo, vi meu ser inundado por ela, a que se chamava Mara, como viria a saber.