Deus não é Idiota: Nós Somos
Deus não é idiota, religião é união com Ele, e nada tem a ver com política ou moral de cuecas. A essência da prática do bem é estar em paz com a sua consciência, de bem com a vida e consigo mesmo. O amor pelas pessoas próximas e/ou distantes é uma decorrência: todos somos iguais, se preferirem irmãos, pois “nada que é humano nos é estranho”. Somos todos capazes dos piores crimes e maldades, quando cegos, ignorantes e egoístas. E, fanatizar-se em torno de regras e preceitos é uma forma de mal e conduta equivocada. A essência do bem e sua prática é o amor, o que inclui o sexo, sem restrições, exceto a de que deve se dar entre pessoas adultas, conscientes, e ser livremente consentido. O mais é ignorância e preconceito. Não existe pecado, só ignorância e fanatismo. Deus não é idiota, é possível amá-lo e se comunicar com Ele, sem abrir mão da ciência, da vontade própria, dos desejos carnais, dos bens materiais e da liberdade de vivermos a vida que quisermos. Só não vale levar sofrimento aos outros, tirar a própria vida, e renunciar ao futuro e à felicidade por culpas passadas. O passado é memória, aprendizado e conscientização, e só temos de prestar contas dele à sociedade. Deus não pune ou castiga ninguém, são as próprias pessoas que se autocondenam, autocastigam e sofrem por causas autoinfringidas, ou por causas naturais ou acidentais, jamais por atos divinos. Deus não faz cada gota de chuva cair, particularmente, apenas criou as leis naturais que, no geral, fazem com que tudo ocorra e aconteça. E nós fazemos parte deste imenso cosmo, somos elos na corrente causal e casual do movimento dos astros e da dança das partículas.
Devemos rezar, não por obrigação ou para pedir coisas, mas para apaziguar a mente, afastar a ansiedade, o medo e o preconceito. Como escreveu Exupéry, em “Cidadela”: a maior oração é o silêncio, é nele que o espírito abre as suas asas. Por isto a meditação é a melhor forma de oração, é no silêncio que o divino se revela em nosso interior e vem à tona, à superfície, depois que cessa o ruído de nossas preocupações momentâneas, trazendo ao nosso dia-a-dia paz, amor, harmonia, beleza e alegria.
É falso pensar que Deus exige isto ou aquilo, que não podemos errar, e que “pecar” nos conduz à punição e ao inferno. Primeiro, não existe pecado, muito menos o original, é ridículo e absurdo pensar que um bebê nasce culpado de algo que um Adão mítico fez. Crianças são inocentes: ponto. Adão é a representação simbólica de um primeiro hominídeo a se distinguir dos símios, por isto talvez possamos aceitar o pecado original e a expulsão do paraíso como alegoria da perda de um estado de união com a natureza e o divino, pelo desenvolvimento da consciência individual excludente. Segundo, se pecado existisse, ele seria apenas toda e qualquer ação, sentimento e pensamento pessoal que gere culpa ou arrependimento. É errado agirmos contra os imperativos de nossa própria consciência, assim como infringirmos sofrimento aos outros e a nós mesmos, pois fazer sofrer nos faz sofrer. Portanto, é racional e de bom senso seguir a razão e não violar as leis humanas, não porque Deus o exija, e sim porque é sábio almejar o bem-estar, o ser melhor, o viver bem, o estar de bem com o mundo, em paz. Terceiro, em geral os nossos atos, sentimentos e pensamentos, devem se pautar pelo saber e pela verdade, sem proselitismo e idolatria, subterfúgios, enganos, obscuridades, crendices ou crenças infundadas, enfim, preconceitos e fanatismos de todo tipo. É preciso estar aberto a toda e qualquer experiência de vida, ouvir e refletir sobre toda e qualquer tese ou teoria, hipótese ou proposta inovadora. Mas, ao mesmo tempo, é necessário descartar o que a ciência demonstre ser falso, o que o saber demonstre ser infundado, o que o respeito pela liberdade de opinião e de expressão demonstre ser o oposto, um modo de opressão e repressão, forjadores de diferenças que incitam ao ódio, ao preconceito e à guerra.
É puro preconceito proibir isto ou aquilo que não esteja vedado por lei humana, só é proibido proibir o que a lei não proíbe. Nenhum livro é sagrado e nenhum personagem humano é Deus, e o próprio Deus não é um Ser contra o qual se possa cometer sacrilégio e pronunciar seu nome em vão. É válido fazer caricatura e rir de toda e qualquer pessoa, personagem histórico, imagem ou mensagem. Deus não é avesso ao riso e à pantomima. Todos possuem direitos iguais perante o divino, mesmo aqueles que uma visão retrógrada de religião chama de pagãos, idólatras, ateus e pecadores. Bem-vindo ao céu todos os de outra cor ou outra opção sexual, os sem crença, os rebeldes e contestadores, os críticos, os debochados, os materialistas, os pobres e os ricos, os ascetas e os promíscuos, os que praticam a luxúria, a gula, a avareza, a preguiça, enfim, os que exercem todas as práticas que necessitam apenas ser dosadas para trazer felicidade, em vez de eliminadas, de modo a produzir infelicidade, desilusão, pessimismo e depressão. Não ao preconceito a tudo o que implica em olhar de cima ou de lado, e não de frente, nos olhos, olho no olho.
Por uma religião da vida, pós-moderna, e com um Deus contemporâneo!