A Insegurança
Vivemos na Era da Insegurança, como no título do livro de George Soros, só que tal ideia tem mais amplitude que o ponto de vista de sua abordagem. Nossa insegurança é de vários tipos e compreende inúmeros fatores. Além da insegurança de andar nas ruas, devido ao crescente índice de criminalidade e violência, que inclui homicídios, latrocínios, assaltos a mão armada, crime organizado, arrombamentos, furtos, balas perdidas, etc., há inúmeras outras fontes de insegurança.
Não sabemos a que ponto chegará a degradação do meio ambiente, considerando ter aumentado enormemente a quantidade de catástrofes naturais por ano e de haver danos irreversíveis à natureza em muitos pontos do planeta. Uma cidade como São Paulo chegará ao ponto de ficar sem água? Se houver o encalhe de um navio do polo petroquímico de Triunfo no Lago Guaíba, com rompimento de casco e vazamento de carga, Porto Alegre passará sede por meses? E que dizer do crescente número de construções em áreas de risco mundo afora, dos acidentes fatais com inundações, deslizamentos, tornados, terremotos, tsunamis e acidentes nucleares?
Não sabemos, no Ocidente, como lidar com a ameaça terrorista, considerando haver um crescente número de imigrantes de países de outras etnias, culturas e religiões que, se não aderem ao terrorismo pelo menos o apoiam, e só na Europa os oriundos de civilizações não ocidental são milhões. Que dizer do avanço em eleições do eleitorado europeu votante em partidos de extrema direita, xenófobos em relação aos imigrantes dos países pobres? Como encarar a guinada mais à direita do Governo Israelense, apoiado por grupos religiosos ortodoxos e sionistas fanáticos? Isto sem falar das guerras e conflitos intermináveis em certas regiões do planeta, que produzem levas de famintos e refugiados.
Não sabemos para onde vai a economia mundial, considerando que, com a globalização, uma bolha estourada ou crise que antes seria local, se espalha como epidemia por todos os países. E sempre haverá lugares onde bolhas estarão se formando, muitas delas feitas de corrupção, falta de ética e desregulamentação excessiva. Assim como haverá crises oriundas de fatores contrários, como o excessivo comprometimento da economia com benesses sociais de alto custo, retirando a competitividade global das empresas nacionais dos países com maior distribuição de renda. E ainda surgirão problemas graves oriundos dos boicotes econômicos provocados por guerras, que também elevam o preço das commodities essenciais, como petróleo e gás.
No Brasil hoje não sabemos como iremos sobreviver e manter o nosso padrão de vida nos próximos meses e anos. Ou se a nossa planejada previdência irá para o brejo, considerando mudanças que vivem ocorrendo, sempre de modo a penalizar os mais pobres e a classe trabalhadora. Só sabemos que a nossa classe política continuará ruim e piorando, de modo a que pouca diferença faz quem está no poder executivo e legislativo, deixando-nos sem esperanças de que coisas positivas possam ser aprovadas para fazer o nosso país avançar. E o poder judiciário tampouco insufla esperança, quando o CNJ em sua primeira reunião reajusta seus próprios salários e não para de conceder aos juízes benesses imorais, comparativamente aos demais trabalhadores brasileiros, como todos os tipos de auxílio que os juízes recebem e não necessitam.
Vivemos inseguros de nossa privacidade, pois o privado virou público, câmeras nos espionam, e tudo o que fazemos com as novas tecnologias de comunicação deixam nossos rastros acessíveis aos criminosos cibernéticos e aos governos autoritários do planeta. Tudo o que vemos, assistimos, lemos e compramos, os lugares onde vamos, as pessoas com as quais nos comunicamos, tudo o que falamos pode ser acessado por terceiros. Se posso acionar meu celular roubado à distância, ver o ladrão e ouvi-lo, mesmo que ele não esteja falando, desde que o meu celular esteja ligado e ao lado dele. Se posso saber onde ele está, outro alguém poderá saber também tudo isto de mim se tenho meu celular comigo. Somos, como alguém já expressou, homens de vidro, ou seja, transparentes, mas também no sentido de vulneráveis. E isto em última instância significa insegurança.
Enquanto escrevia recebi a notícia da morte de uma amiga, e a morte é o produto final de todas as inseguranças. A insegurança é, sob certo prisma, o medo da morte, o aspecto instintivo de nosso ser que cuida de nossa sobrevivência. Portanto, vivermos inseguros significa estarmos constantemente acuados e ameaçados, portanto, estressados e infelizes, pessimistas, com dificuldade de nos sentirmos leves, com capacidade de voar. Somos, às vezes sem nos darmos por conta, em verdade trapezistas caminhando na corda bamba, sempre sob o risco de despencar no vazio.